Texto e fotos: Berna Farias – Febtur Bahia
Publicado originalmente no Portal Turismo Total, editado pelo jornalista Nelson Rocha
Turistar em Olinda é algo simplesmente de encher os olhos. Indo além, é de encher a alma. Ostentando um conjunto colonial dos mais bem preservados do Brasil, a cidade esconde um deslumbramento em cada diferente ângulo das ruas, esquinas e becos, com ou sem saída para o mar.
Olinda é efervescente em qualquer época do ano, pra lá da folia nos Quatro Cantos. Pulsa nas cores e formas do seu casario, igrejas e praças, e na alma de seu povo alegre, festeiro, inventivo e acolhedor. Quer ver um exemplo? Suba uma das ladeiras que levam ao Alto da Sé.
Se sua opção for a lateral da Catedral da Sé, na Avenida Bispo Coutinho, bairro do Carmo, a viagem começa bem. A magia começa no Palácio dos Bonecos, um casarão histórico “habitado” por mais de 70 bonecos ladeados de estandartes dos blocos de rua que dão vida a um dos melhores carnavais do Brasil.
Os bonecos, claro, são altamente “instagramáveis”: de repente você pode posar ao lado de Alceu Valença, Ariano Suassuna, Elba Ramalho e outras figuras de Pernambuco, do Brasil e do mundo. Também pode ver a manipulação dos bonecos e até tentar dançar o frevo com um dos passistas.
Licor de merda
Saindo do Palácio dos Bonecos, as lojas de artesanato vão amenizando a subida. São muitas e variadas, chamando a atenção do visitante. Uma delas é a Marcos de Olinda, onde a simpatia da vendedora Alcione “Marrom Meno” Sá Leitão é um atrativo a mais. Assim como o Licor de Merda, exclusivo da casa, mistura de cachaça com açúcar, canela, leite, cacau, baunilha e cítricos. Gostoso demais. Como diz Alcione, “até a merda de Olinda é boa,”
Nas lojas, tem “de um tudo”: roupas de renda e de chita (e tecidos modernos também), chapéus e bonés de couro, artesanato em cerâmica, madeira e outros materiais, ímas de geladeira super criativos e delícias como rapadurinha, bolo de rolo, cocadas e, claro, cachaças pra todos os gostos. Subindo mais um pouco, as famosas tapiocas do Alto da Sé são a atração gastronômica mais procurada.
Todo o Alto da Sé, na verdade, é um extenso mirante. Mais interessante é a contemplação da larga vista de parte das cidades de Olinda e Recife a partir dos muros da Catedral da Sé, ou Catedral Metropolitana do Santíssimo Salvador do Mundo. Um dos marcos mais icônicos e históricos de Olinda, sua rica arquitetura colonial e a serenidade do ambiente religioso proporcionam momentos muito especiais de paz e enriquecimento cultural. As visitas podem ser guiadas ou individuais. Ali está sepultado Dom Hélder Câmara, que foi arcebispo de Recife e Olinda.
Mercado da Ribeira
Em Olinda os caminhos se entrelaçam, de repente as ruas se abrem para outras ruas ou becos e quando menos se espera elas se encontram de novo, mas sempre nos levam a alguma descoberta surpreendente. E assim a gente vai parar na casa do mais emblemático morador de Olinda, o cantor e compositor Alceu Valença, e até ver uma exposição ou tomar um café na Estação da Luz, espaço cultural ao lado da casa.
Também pode ir parar no histórico Mercado da Ribeira, antigamente chamado de Mercado dos Escravos porque ali os escravizados iam fazer compras para os senhores. O local, que abrigou açougue, peixaria, fábrica de doces, armazém de secos e molhados, tenda de sapateiros, é hoje reduto de artesãos e artistas populares.
O pioneiro é o artesão Genésio Reis, que se instalou ali há 68 anos, no final da década de 1950, contribuindo, com os também artistas João Câmara e Paulo Neves, para transformar o antigo mercado em um espaço de arte. Todas as atuais 20 lojas – 16 na área externa, quatro internas – levam o nome de vultos históricos, menos a de Genésio, que de Duarte Coelho passou a se chamar, com autorização da Câmara Municipal, Saffira Frevo.
Hoje psicóloga, Saffira, 36 anos, é filha caçula de Genésio e renomada passista: com talento excepcional para a dança, aos oito anos de idade já era considerada a melhor professora de frevo de Olinda e foi homenageada no Carnaval do ano 2000 da cidade.
Outro artista atuante no Mercado da Ribeira é Zezus Medeiros, da loja Fernandes Vieira. Ele cria ali mesmo, à vista dos visitantes, e voltou para Olinda após viver no Rio de Janeiro e na Itália, onde realizou muitas exposições. Este, aliás, é um importante diferencial da Ribeira: o turista pode apreciar a confecção do artesanato e obras de arte, como pintura e escultura, e não apenas adquirir as peças. Há trabalhos em pedra, madeira, argila, e outros materiais.
Incentivo ao turismo
Pela importância como equipamento turístico, o Mercado da Ribeira merece maior cuidado e atenção, e não apenas em relação à sua estrutura física. “O movimento é bom, mas poderia ser muito melhor. Passam muitos carros com turistas, mas poucos param, por falta de divulgação”, opina Zezus.
Bem pertinho dali está a Casa do Turista, órgão da Secretaria de Turismo de Olinda, onde o visitante conta com estrutura como banheiros, salas de exposição, informações sobre pontos turísticos, mapas da cidade. Ali também acontecem cursos, em parceria com o.Sebrae e o Senac, nas áreas de hotelaria, manipulação de alimentos, atendimento ao turista, condutores e guias.
Os condutores e guias atendem pequenos e médios grupos em passeios a pé ou em jeep aberto chamado de bonde ou trenzinho. O passeio de jeep costuma incluir paradas em pontos históricos e a experiência proporciona, além de vistas panorâmicas, a possibilidade de acessar áreas que podem ser difíceis de alcançar a pé.
Os guias costumam fornecer informações sobre a história, cultura e arquitetura de Olinda durante os passeios, mas fique atento, porque algumas dessas informações podem não estar correta. É o caso do Mercado da Ribeira, às vezes apontado como antigo mercado de escravos, mas nunca funcionou como tal. E de um móvel da sacristia da Catedral da Sé, que alguns dizem ter sido doado pela rainha francesa Maria Antonieta, quando não há provas disso.
EXPERIÊNCIA HOTELEIRA
Refúgio de frente para o mar é uma definição exata para um equipamento hoteleiro já tradicional no Bairro Novo. Instalado há 35 anos, o Hotel Costeiro tem localização privilegiada: de frente para o mar, tem fácil acesso ao Centro Histórico de Olinda e ao Recife antigo, a dois grandes shopping centers – Patteo, em Olinda, e Tacaruna, em Recife – e ao Centro de Convenções de Pernambuco.
Essa localização estratégica garante altas taxas de ocupação durante quase todo o ano. O engenheiro Maurício Galvão, proprietário do hotel, aponta uma demanda de 60% negócios e 30% férias. “Durante eventos como a Fenearte (maior feira de artesanato da América Latina), estivemos 12 dias lotados.”
Galvão, que foi secretário de Turismo de Olinda em duas gestões, confirma que, embora seja uma cidade festeira e de traços culturais marcantes, Olinda atrai bastante o turismo de negócios. Atendendo a essa tendência, o hotel possui dois salões de convenções e conta com um amplo restaurante com vista para o mar, além do bar da piscina.
O Hotel Costeiro possui 82 apartamentos, distribuídos em cinco categorias diferentes e dispostos em quatro pisos. Toda a área do prédio é decorada com pinturas, esculturas e peças de artesanato de autores renomados e artistas populares. As peças, “garimpadas em feiras de arte”, segundo Maurício Galvão, são todas temáticas, retratando a cultura olindense.
Todos os quartos incluem ar-condicionado, frigobar, TV a cabo, telefone, cofre e Wi-Fi gratuito. O buffet de café da manhã é servido no restaurante com vista panorâmica do mar, que também serve pratos das culinárias local, nacional e internacional no almoço e jantar. O hotel oferece, ainda, recepção 24 horas, serviço de quarto e estacionamento.