Transfer-Encoding: chunked 1000 ABERTURA. DIA. EXTERNA. Um carro anos 20 estaciona na frente de uma obra. O carro para lentamente, os operários que estão trabalhando, largam seus afazeres por um momento para olhar para o veículo preto chegando. O motor do carro é desligado, abre-se a porta do motorista, desce um homem por volta de 50 anos, bem vestido, trajando roupas de época, incluindo chapéu coco. Ele dá a volta no carro e abre a porta do passageiro. Sai uma mulher, um pouco mais nova, também muito bem vestida com roupas de época. Ela segura o chapéu por causa do vento, e dá o braço para o homem, os dois caminham até o pequeno muro na frente da obra e param para olhar. HOMEM : Aí está querida, nossa futura casa. Como pode ver, um verdadeiro palacete. MULHER: Sim, Ignacio, imensa. Não é exagero? HOMEM: Meu amor, já te disse. Somos uma família respeitável, precisamos de uma casa adequada ao nosso status. Tudo foi planejado para ser a melhor, a maior e a mais bela casa da cidade. MULHER: Mas, pelo jeito, vamos ter que esperar muito ainda. não é? Falta muita coisa para terminar. HOMEM: Sim, imagino mais um ano. MULHER: 1 ano, é muito tempo, não dá para por mais gente trabalhando? HOMEM: Não é isso, querida. O acabamento leva muito tempo, por que tudo demora para ser entregue. O mármore vem da Itália, chega em 6 meses, a madeira dos corrimões e das sacadas vem do Pará, mais um tempão para chegar. Os metais são ingleses, ainda não tenho o prazo de entrega. E tem que ser assim, para ser perfeito, tem que levar tempo mesmo. A mulher sorri para o marido, os dois se abraçam. cam. se afasta e corta para a imagem dos créditos CREDITOS. Corte para fundo com perspectiva de um casarão, em cima entram os créditos do filme. A ideia é ir traçando no quadro as linhas do casarão e, a cada traço, entra um crédito. No final, forma=se a imagem do casarão. Trilha musical tema do filme. CENA 2. PREPARATIVOS PARA A INAUGURAÇÃO. TARDE. EXTERNA E INTERNA. Diversas pessoas entram e saem do casarão carregando coisas: copos, engradados de bebidas, flores, cestos de frutas, num vai e vem frenético. Dentro da casa, a mulher está no centro da casa dirigindo o staff. MULHER: Coloque as champanhas no gelo, por favor. As taças devem ser lavadas e colocadas no balcão. As flores devem ser postas nos vasos que estão na cozinha e trazidas para cá, eu digo onde colocar os vasos. Vamos lá gente, não temos muito tempo. Chegam mais carregadores trazendo coisas para a inauguração da casa. A mulher olha para a movimentação. Sua expressão é de nervosismo, olha para o relógio na parede que mostra que são seis horas da tarde. CENA 3. INAUGURAÇÃO. INTERNA. NOITE. A mulher e o marido estão na grande sala, a casa está totalmente pronta para receber os convidados. As flores decoram os ambientes, garçons estão perfilhados aguardando a chegada das pessoas, num pequeno palco, a esquerda está um quarteto de cordas, passando o som dos instrumentos. O marido olha para o relógio da parede, são 19h45. Ele sorri para a esposa e diz: HOMEM: Está tudo perfeito, querida, Cadê as crianças? Mulher: Crianças? Nossos filhos adultos estarão chegando em 10 minutos, não se preocupe. Vamos ter uma noite maravilhosa. CENA 4. VIZINHA. INTERNA. NOITE. Sala de estar da casa vizinha, a dona, Matilde, mais ou menos 50 anos, está tomando um chá no inicio da noite com duas amigas. MATILDE: Hoje teremos a inauguração do casarão ai do lado. Por gentileza, o casal me convidou. Mas, não vou. Não tenho roupa apropriada e não conheço os demais convidados. Mas, acho que deve ser uma festa bem bonita. MULHER 1: Sim, Matilde, pelo que chegou de bebida, comida, flores e garçons, vai ser um festão. Pena que você decidiu não ir, não saberemos os detalhes, só o que sair nos jornais amanhã. MULHER 2: Deve ser tão bom ter tanto dinheiro assim, eu seria a pessoa mais feliz do mundo vivendo numa casa igual a essa. As três balançam a cabeça concordando e continuam bebendo seu chá. CENA 5. A FESTA. INTERNA. NOITE. A casa ago 1000 ra está cheia, pessoas de todas as idades, bem vestidas, circulam pelo grande salão com taças de champanhas nas mãos. No centro, o casal recebe os convidados, agradecendo a presença. HOMEM: Muito obrigado por prestigiar nosso pequeno evento, comendador. Espero que tenha uma noite agradável. HOMEM 2: Imagine se eu perderia essa festa, tenho certeza de que será a altura da maravilhosa casa que vocês construíram, certamente, não é uma casa, mas um monumento imponente para a nossa cidade. Parabéns Ignacio, você se superou. Ignacio sorri envaidecido e pede licença para receber o prefeito que chega junto com o Governador. IGNACIO: Prefeito e governador, é uma grande honra recebê-los em nossa humilde casa. Ambos sorriem e dão uma olhada em volta admirando a suntuosidade do ambiente. GOVERNADOR: Bem humilde, Ignacio. Já estive em diversas residências pelo estado, mas, juro que nunca vi nada igual. Parabéns amigo, sua casa e uma maravilha e representa a força de nosso estado. A festa continua, o conjunto de câmera tocando no pequeno palco, pessoas ricas e bem vestidas circulando, um casal dançando em um canto da sala. Crianças correndo pelo salão, tudo perfeito. Ignacio e a esposa estão cercados de convidados, todos sorridentes e felizes. CENA 6. SARAU MUSICAL. INTERNA. NOITE. O grande salão da casa recebe diversos convidados, todos trajando trajes de gala e.sentados em poltronas e cadeiras dispostas em circulo em volta do salão. No centro, um pequeno palco, uma solista executa árias de Bach. Câmera percorre a sala mostrando os rostos felizes dos ricos e famosos desfrutando mais uma noite na mansão dos Rosas. No lado direito, bem no centro, está o casal bem feliz com o sucesso do sarau. IGNÁCIO: Nada como a boa música para alegrar os corações e despertar as mentes. Sua mulher, ao lado, sorri discretamente. Ao lado de Ignácio, um casal, mais ou mentos da mesma idade, comentam: HOMEM: Parabéns mais uma vez, Ignacio. Vocês trouxeram vida para a nossa cidade. Nunca antes tivemos a oportunidade de desfrutar de uma noite como essas que vocês tem oferecidos todas as semanas para nossa pequena comunidade. MULHER: Sim, Ignacio, uma virtuose como essa jamais poria os pés na nossa cidade sem o convite imperioso que você fez. Agradeço muito por ter nos proporcionado momentos como esse. Ignácio apenas meneia a cabeça e volta sua atenção para a interpretação da violinista. CENA 7. VIZINHA. INTERNA. DIA. Matilde e as duas amigas estão na varanda da casa olhando o movimento no casarão. Ficam excitadas quando para uma Van e desce 5 instrumentistas carregando seus instrumentos e entram no casarão. MATILDE: Não falei para vocês, um conjunto irá tocar peças clássicas para os convidados. Nunca se viu isso aqui na cidade. MULHER 1: Imagino que beleza que deve ser. Daria meu braço direito para estar lá ouvindo. MULHER 2: Braço? Eu daria minha vida para viver uma noite dessas. MATILDE: Deixem de exageros. Daqui vamos poder ouvir a música e está de bom tamanho. CENA 8. CHA NOS JARDINS. EXTERNA. DIA. A mulher de Ignácio, Sara, está recebendo algumas amigas para um chá da tarde. Conversam amenidades no amplo e bem planejado jardim. MULHER1: Que delícia de chá, Sara? Não conseguiu aqui, claro. SARA: Sim, muito bom mesmo. Adquiri de um fornecedor da capital, ele importa direto da Inglaterra. Que bom que você está apreciando. MULHER 1: E o Ignácio, como ele está? Se recuperou do resfriado? SARA (abaixando levemente os olhos) - Ainda está convalescendo, o doutor Crispin disse que é uma moléstia muito forte, os medicamentos demoram para fazer efeito. Mas, se Deus quiser, na próxima sexta ele estará comandando mais um sarau para os amigos. MULHER 1 (sorrindo sem jeito ): Certamente querida. Ele é um homem forte e irá superar esse revés em breve. CENA 9. VELÓRIO. INTERNA. NOITE No centro do salão, um vistoso caixão de mogno com diversas coroas de flores em volta. e, ao lado, Sara e os dois filhos, todos de preto. Sara chora silenciosamente, amparada pelos 1000 filhos. Uma fila se forma e a sociedade local espera pacientemente pela sua vez para apresentar as condolências a família de Ignácio. MULHER 2: Querida Sara, meus sentimentos mais profundos nesse momento de dor, Que tristeza termos que nos despedir de Ignácio. Espero que você e os meninos consigam superar essa perda e voltem a sorrir brevemente. SARA: (balança a cabeça aceitando os pêsames, mas não consegue pronunciar uma palavra. Câmera se afasta e mostra a fila andando e todos consolando a família da maneira que conseguem. CENA 10. VIZINHA. INTERNA. DIA. Matilde está sozinha,toda vestida de preto.Ela termina de rezar na frente de um pequeno santuário na sala. Se levanta e fala sozinha. MATILDE: Que tristeza, um casal tão feliz, uma vida tão maravilhosa e interrompida por uma doença desse tipo. O que será desse casarão agora. Tomara que a proprietária reuna forças para se recuperar e manter a vida do casarão CENA 11. FACHADA DA CASA. EXTERIOT.NOITE. Travelling mostrando o casarão fechado, luzes apagadas, apenas as luzes do jardim estão acesas. Um casal passa pela calçada. o homem comenta com a mulher. HOMEM: Que coisa horrível, lembra, essa casa era uma festa interminável. O dono morreu, a casa morreu junto. Sempre fechada, escura. A vida acabou ai dentro. MULHER: Pois é, dizem que a viúva está inconsolável, os amigos e parentes já tentaram de tudo, mas ela continua muda e com o olhar vazio. Cruz credo, parece coisa do demo. CENA 12. O ASSALTO, O ASSASSINATO. NOITE. INTERNA. Interior do casarão, o relógio da sala marca uma hora da manhã. Dois homens encapuçados percorrem silenciosamente a sala e vão para o escritório, onde esperam encontrar um cofre. Começa a mexer na estante, procuram nas paredes, embaixo da mesa. Ambos estão impacientes, mas continuam sua busca. Nesse momento, a porta do escritório é aberta e surge a viuva de camisola. Os dois olham para a porta, a mulher abre a boca e solta um grito. Um dos homens salta em direção a ela e agarra o pescoço dela, tentando sufocá-la para que se cale. Ela luta desesperadamente para se safar, mas o cara é jovem e muito mais forte que ela. Aos poucos, ela vai parando os movimentos até cair inerte no chão. Nesse momento, surge os dois rapazes, os filhos dela que acordaram com grito da mãe. Quando entram no escritório, um dos assaltantes, empunha auma arma e dispara dois tiros em cada um. Ambos caem mortos no chão do escritório. Os dois assaltantes entendem que a merda está feita e saem correndo da casa, sem levar nada. CENA 13. O DIA SEGUINTE. EXTERNA. DIA. Uma viatura da policia está parada na frente da mansão, do outro lado da calçada uma pequena multidão de curiosos se acotovelam para assistir o evento. Chega um rabecão, e os corpos da mãe e dos dois filhos são retirados e colocados dentro do veículo. Câmera se aproxima e mostra dois policiais falando. POLICIal 1: Que barbaridade, parece que foi um assalto que deu errado. Os ladrões deve ter sido pegos na boca da botija e trucidaram a família. POLICIAL 2: Parece que sim, é uma pena, eles mal tinha perdido o chefe da família e são mortos dessa forma horrível. POLICIAL 1: O que será que vai acontecer com esse casarão? Fiquei sabendo que não tem mais ninguém na família, nem herdeiros. Deve ir pra leilão, sei lá. Bom, isso não é problema nosso. Vou encerrar a vistoria do local e liberar para a Prefeitura. Eles que se virem. CENA 14. PREFEITURA. DIA. INTERNA. O Prefeito está reunido com seus secretários, um deles, o do patrimônio pergunta ao prefeito: SECRETÁRIO: Prefeito, precisamos decidir o que fazer com o casarão. Colocamos à venda, reformamos e usamos, talvez como sede de uma secretária ou outro orgão municipal? PREFEITO: Não vamos fazer nada agora, estou terminando o mandato, vamos deixar esse abacaxi para meu sucessor descascar. Todos riem e o secretário de patrimônio balança a cabeça vagarosamente, discordando em silêncio da orientação do Prefeito CENA 15. CASARãO. NOTURNA. EXTERNA E INTERNA. Dois mo 1000 radores de rua pulam a cerca que separa o jardim da calçada e entram no terreno do casarão. Em silêncio, dirigem-se a porta principal. Tenta abrir, está trancada. Dão a volta em torno da casa e chegam na porta dos fundos. Também está trancada, mas é uma porta comum. Um deles pega um pé de cabra na mochila que carrega e encaixa no vão da porta. Força até ela ceder. Abrem a porta e entram sorrateiramente dentro do imóvel escuro e deserto. O mais alto, tira do bolso um isqueiro e tenta iluminar o ambiente. Estão na cozinha. Procuram nas gavetas e acham velas. Acendem duas, cada um pega a sua e se dirigem aos outros aposentos. Corte para externa. Hove-se dois gritos altos e desesperados vindo do interior do casarão. A casa vizinha acedem as luzes e surge um vulto da Matilde, a vizinha, na janela. Ela olha para o casarão, não vê nada de anormal. Fecha a janela e apaga a luz. CENA 16. CASARÃO. EXTERNA. DIA Um grupo de pessoas ocupa a calçada na frente do casarão. Estão todos de olho na casa. Na entrada da frente, alguns policiais estão postados. Saem duas macas cobertas com tecidos ocultando o que carregam. os homens levam as macas para uma ambulância que sai com a sirene ligada e as luzes piscando. CENA 17. GABINETE DO PREFEITO. INTERNA. DIA. O Prefeito está reunido com o secretário de segurança e um major. PREFEITO: Como encontraram dois corpos no casarão? Quem eram? O que faziam lá? Como morreram? SECRETÁRIO: Segundo as investigações o de acordo com o laudo da autopsia, eram moradores de rua que invadiram a casa de madrugada e foram mortos por alguém, ainda não descobrimos o autor. A morte de ambos foi, sem dúvidas nenhuma, assassinatos. Tiveram membros e cabeças decepados por algum objeto cortante, o laudo não conseguiu especificar que objeto foi usado. Estamos investigando. Os vizinhos ouviram gritos desesperados que coincidem com o horário estipulado para a morte, mas não viram nada, ninguém saindo do casarão após o incidente. A polícia foi chamada logo depois por um dos vizinhos. Entramos no imóvel assim que tivemos autorização judicial, por volta das sete da manhã. A cena encontrada pelos policiais era terrível. Um verdadeiro banho de sangue. PREFEITO: Temos que resolver isso rapidamente. A mídia vai ficar em cima e tudo que não preciso é de um desfecho assim para a minha gestão. Os dois servidores balançam a cabeça e se retiram em silêncio do gabinete do prefeito. CENA 18. INTERNA. REDAÇÃO DE JORNAL. Reunião de pauta no jornal da cidade. Diversos reportes em volta de uma grande mesa, na cabeceira o editor do jornal. EDITOR: - Então, como estamos com o crime violento na casarão da Rua Principal. Aliás, esse é o nome que decidimos utilizar a partir de agora com tudo o que aconteça naquele local, estamos entendidos? Todos murmuram concordando. EDITOR: Pois bem, tivemos algum avanço da polícia? Algum suspeito detido? Alguma coisa nova? REPÓRTER 1: Nada ainda, senhor.Estou em cima, meu contato na delegacia disse que estão que nem cachorro perdido, sem saber para onde ir. REPÓRTER 2: O Prefeito está decidido a resolver esse caso de qualquer forma, não quer deixar o cargo com esse peso nos ombros. REPÓRTER 3: Soube, agora mesmo, que o secretário de segurança pediu ajuda à capital. parece que vão enviar 2 investigadores experientes para ajudar nossos policiais. Assim que tiver confirmação, passo para a editoria. EDITOR: Ok, vamos ficar em cima. As vendas foram ótimas hoje, amanhã temos que ter alguma coisa bem fresca para alimentar nosso publico sedento de sangue. Ao trabalho. CENA 19. DELEGACIA DE POLICIA. INTERNA. DIA Reunião na sala do delegado principal. Vários policiais sentados no pequeno auditório. Na frente, ao lado de uma tela, o delegado. DELEGADO: Gente, estou sendo pressionado pelo secretário de segurança, o prefeito quer resultados imediatos. O que temos? POLICIAL 1: Nada, senhor. Nem uma testemunha. nenhum suspeito, estamos aguardando o resultado da perícia, é a nossa melhor chance. POLICIAL 1: Investigam 1000 os as duas vítimas, não tinham inimigos declarados. Chegaram na cidade há 2 dias, parece que queriam apenas um lugar para dormir, viram o casarão abandonado e resolveram entrar. POLICIAL 3: Vasculhamos a casa inteira e o entorno, nada de arma, nenhuma faca, facão ou machado foi encontrado. Um mistério total. DELEGADO: Pelo amor de Deus, não existe crime sem autoria. temos que encontrar alguma coisa. Mais uma notícia, o secretário falou com o Governador, estão mandando reforços da capital. Vamos recebê-los bem e colaborar em tudo que for preciso, nada de ciumeira. Lembrem-se: temos que resolver essa merda antes que o cheiro fique insuportável. Dispensados. CENA 20. BANCA DE JORNAL.EXTERNA. DIA. Um grupo de pessoas está amontoado ao lado da banca olhando curiosos para a capa de jornal exposto ali. Câmera aproxima e mostra a manchete do jornal. CRIMES NA CASA DA RUA PRINCIPAL AINDA UM MISTÉRIO. Popular 1: Pra mim, isso é coisa do além. Ninguém vai descobrir nada, o demo não deixa pistas. Popular 2: Deixa de ignorância João. Tá na cara que foi um assassinato encomendado. Degolaram os caras e não deixaram vestígios, coisa de profissional Popular 1: Sei não, me falaram que acontecem coisas naquele casarão desde que a dona e os filhos foram assassinados. É vingança, pode crer. Não querem ninguém invadindo a casa. Popular 3: É verdade, fiquei sabendo que todas as noites tem luz de velas que dá para ver pelas janelas. Como teria vela se não tem ninguém morando lá? Popular 1: Isso é invencionice de quem não tem nada pra fazer. Pode ter certeza, amanhã ou depois a polícia prende os assassinos. Câmera focaliza o homem 2 que gesticula a cabeça mostrando incredulidade na tese do amigo. CENA 21. CASA DA VIZINHA. EXTERNA. DIA. Matilde e as duas amigas estão sentadas na varanda tomando limonada. As três conversam. MULHER 1: Matilde, verdade que você ouviu os gritos dos mortos? MATILDE: Claro que não, ouvi dos vivos antes de serem mortos. Foram gritos horripilantes. Parecia que estavam sendo mortos por alguma coisa muito estranha. MULHER 2: Fico toda arrepiada só de ouvir. O padeiro me contou que a casa é mal assombrada, que isso é coisa do outro mundo. Ela faz o sinal da cruz. MATILDE: Assombrada ou não, não arredo pé da minha casa. As duas mulheres se entreolham sem saber se devem concordar ou não com a afirmação da amiga. CENA 22. GABINETE DO PREFEITO. INTERNA. DIA. O prefeito está reunido com seu secretariado. Ele fala com tom de voz nervosa. PREFEITO: Bom, já vi que vou deixar a prefeitura com esse crime misterioso sem solução. Ou seja: minha carreira política será enterrada junto com as duas vítimas. SECRETÁRIO 1: Mas, prefeito, a polícia continua trabalhando, os dois investigadores que vieram da capital estão praticamente morando na delegacia, Logo, logo teremos resultados. PREFEITO: Sim, assim como acredito que a terra ficou plana e que discos voadores irão nos levar para outro planeta. Para com isso, estive hoje com o delegado titular e eles não tem nada, nada, nada. Vamos acabar com esse assunto. Eu dei ordens para encerrar o caso e parar de gastar recursos inutilmente. Todos murmuram concordando e o prefeito se levanta encerrando a reunião. CENA 23. CASARÃO. EXTERNA, DIA. Trabalhadores da prefeitura cercam a casa com tapumes em volta do terreno. Quando a última parte da cerca é colocada, o capataz fala para o pessoal. CAPATAZ: Bem, terminamos. Ninguém mais vai invadir a casa e podemos dormir em paz. Vou comunicar na prefeitura que encerramos os trabalhos e que estamos disponíveis para outras tarefas. Obrigado a todos. CENA 24. PREFEITURA. INTERNA. DIA. Posse do novo prefeito. O prefeito anterior passa o cargo para o prefeito eleito. Esse agradece e faz uma promessa. PREFEITO ELEITO: Obrigado a todos pela presença, especialmente ao digníssimo prefeito Josué de Oliveira que realizou um excelente trabalho para a nossa cidade. Hoje estivemos reunidos e foi me passado toda a situação da prefeitura. Fiquei contente em saber que 1000 estamos organizados, sem dividas impagáveis e com verbas disponíveis no caixa. Vamos trabalhar muito para deixar nossa cidade ainda mais orgulhosa e feliz. A população pode ter certeza de que estarei a postos 24 horas ao dia para resolver todo.e qualquer problema. Falando em problema, vou enfrentar de frente um osso atravessado na garganta de todos os cidadãos. O casarão da rua principal será reformado e se tornará a residência oficial do prefeito. Murmúrios no recinto. PREFEITO ELEITO: Isso mesmo, amanhã mesmo iniciaremos as obras e vamos acabar de vez com as crendices que envolvem esse imóvel valioso e necessário para nossa gestão. Obrigado mais uma vez pela presença de todos e vamos trabalhar. APLAUSOS. CENA 25. CASARÃO. EXTERNA. DIA Uma equipe de operários chega em um ônibus que estaciona na frente do casarão. Um a um eles vão descendo e olham curiosos para o casarão meio escondido atrás dos tapumes. Rapidamente abrem o portão e entram no terreno. CENA 26. CASARÃO. INTERNA. DIA. Corte para interior do casarão. 4 operários com o capataz na frente entram no grande salão do imóvel. O capataz tira o capacete de segurança da cabeça, e coça o cabelo meio nervoso. CAPATAZ: Quem andou limpando o casarão? Pelo que me disseram ele esta fechado há meses. Mas, está tudo limpo, não tem poeira, estranho não? Parece que tem gente morando aqui OPERÁRIO 1: Não seria melhor a gente sair e chamar alguém para checar isso, chefe¿ CAPATAZ: : Deixa de bobagem, Araújo. O prefeito deve ter mandado uma equipe de limpeza ontem sabendo que estaríamos trabalhando hoje. Vamos lá, vamos ver por onde começamos. Os homens saem e pegam equipamentos, voltando a entrar no casarão. CENA 27. BOTECO. INTERNA. DIA. No boteco da esquina do casarão os fregueses habituais tomam suas cervejas e conversam entre si. HOMEM 1: Viram, que o novo prefeito resolveu finalmente reformar o casarão? HOMEM 2: Vi sim, mas sei não, tomara que não termine novamente em tragédia. DONO DO BOTECO: Vira essa boca pra lá Joaquim, torço para que o casarão ganhe vida novamente e tenha bastante gente trabalhando lá. Assim, meu movimento aumenta um pouco. HOMEM 1: Deus te ouça, Gervásio, Deus te ouça. CENA 28. REDAÇÃO DO JORNAL. INTERNA. DIA. Na redação, todos trabalhando em seus computadores, câmera aproxima-se de um repórter que está ao telefone. REPÓRTER: Como? Certeza? Ok, obrigado, te retorno sim. Abraço. O repórter desliga o telefone e sai quase correndo em direção da sala do chefe de redação. Bate levemente na porta, aguarda um segundo e entra. CHEFE DE REDAÇÃO: O que foi, Josenildo, que bicho te mordeu? REPÓRTER: Chefe, acabei de receber uma informação do nosso homem na delegacia. Aconteceu outro acidente no casarão. Ele não tinha maiores informações, mas me garantiu que houve mortes na casa. CHEFE DE REDAÇÃO: Que loucura, pegue o fotógrafo e se mande pra lá. Me liga assim que confirmar, vou segurar o espaço na capa do jornal para a notícia. CENA 29. CASARÃO. EXTERNA. DIA. O repórter e o fotógrafo estacionam o carro na frente do casarão e olham estarrecidos para a cena. Policiais na frente da porta de entrada. Maca com corpo coberto saindo pela porta. Eles se aproximam do cordão de isolamento, o repórter faz um sinal para um policial a paisana que está próximo, ele se aproxima. REPÓRTER: Boa tarde, Carlos. O que aconteceu? Conta aí. POLICIAL: Vou te dizer Josenildo, mas não cite meu nome, ok? Os operários da prefeitura entraram no casarão para começar a reforma ordenada pelo prefeito e ninguém sabe dizer exatamente como aconteceu. Dois operários foram mortos no andar de cima, partes de seus corpos foram jogados pela escada. Os demais, que estavam no salão saíram correndo e nos chamaram. Estamos aguardando a chegada da perícia, mas foi isso que aconteceu, pelo que sabemos até agora. REPÓRTER: Que loucura, tem os nomes dos operários? Idade, se eram daqui, onde moram, dados pra matéria? POLICIAL: Não, nada. Mas, ainda agora a tarde terei 1000 essas informações, mas sabe como é. Precisamos combinar o valor, claro. REPÓRTER: Ok. Ele vira-se para o fotógrafo e manda ele fotografar o trabalho policial e sai para telefonar para o chefe. CENA 30. PREFEITURA. INTERNA. DIA. O novo prefeito recebe a visita do novo secretário de segurança. SECRETÁRIO: Sr. Prefeito, foi isso que lhe contei. É tudo que sabemos até o momento. Mais um crime violento e inexplicável no casarão da rua principal. Assim que tiver mais informações, o senhor será o primeiro a saber. O prefeito balança a cabeça e liga pelo interfone para a secretária. PREFEITO: Dona Jurema, convoque o secretário de patrimônio imediatamente. Aguardo, obrigado. CENA 31. REDAÇÃO DO JORNAL. INTERNA, NOITE. Na sala de reuniões estão o redator chefe, o editor e o repórter. REDATOR CHEFE: Ok, vamos sair com a noticia na primeira pagina da edição matutina. Temos tudo que precisamos, a matéria está boa, as fotos também e vamos em frente. Vamos manter esse assunto na pauta o máximo de tempo possível, todos sabem que nada vende melhor do que assassinatos brutais. EDITOR: Concordo, vamos esmiuçar todos os detalhes. A vida das vítimas, seus sonhos, família, etc. O trabalho policial, a perícia, os laudos do legista, tudo. REPÓRTER: Sim, claro, estamos atentos a tudo. Tenho um repórter no Instituto Médico Legal, outro na delegacia e uma equipe no bairro onde viviam as vítimas. Tudo sob controle. EDITOR: Perfeito, me coloquem ao par de tudo que acontecer. Precisamos fechar a edição de amanhã com tudo que tivermos. CENA 32. BOTECO. INTERNA. ENTARDECER. Os fregueses do boteco estão tomando suas cervejas, um clima de velório no local. HOMEM 1: Que tragédia, que loucura. Quem explica isso? HOMEM 2: Não sei, mas falam que é coisa do demo. HOMEM 1: Que demo, deixa de bobagem, isso, pra mim, é alguém jogando sujo para deixar o imóvel desvalorizado e faturar uma grana em cima. DONO DO BOTECO: Tá louco Joaquim, quem faria uma coisa dessas. Matar dois homens a sangue frio e com requintes de crueldade? Só um insano ou coisa do outro mundo, como disse o João. Os clientes voltam a beber em silêncio enquanto o dono do boteco pega um pano e passa no balcão. CENA 33, PREFEITURA. INTERNA. DIA. PREFEITO: Algum resultado das investigações do ocorrido no casarão? SECRETARIO DE SEGURANÇA: Ainda não temos nada, pelo que vi até agora, trata-se de um crime muito semelhante ao ocorrido ano passado. O modus operandi leva a crer que o assassino seja o mesmo. Estamos trabalhando com a hipótese bem real de um assassino em série. O que será péssimo para a nossa segurança. PREFEITO: Certo, quanto ao casarão, vamos recolocar os tapumes e esquecê-lo. Ninguém mais toca nesse assunto, estou sendo claro. Todos concordam. CENA 34. REDAçÃO DO JORNAL. INTERNA. NOITE A equipe de repórteres está reunida, o chefe de redação fala com os olhos brilhando. CHEFE DE REDAÇÃO: Temos a manchete de amanhã. Será bombástica. SERIAL KILLER ATACA NOVAMENTE NA CASA DA RUA PRINCIPAL. Todos sorriem. CHEFE DE REDAÇÃO; Esta mesmo confirmado que a polícia trabalha com a hipótese de um assassino em série? REPÓRTER 1: Sim, senhor. O brieffing passado para todos os policiais envolvidos no caso deixa claro isso. CHEFE DE REDAÇÃO'Perfeito, vamos em frente. CENA 35. PASSAGEM DE TEMPO. Câmera fixa em frente ao tapume do casarão.As cores do tapume vão perdendo a cor, a estrutura verga, algumas folhas despregam levemente, demonstrando a passagem de tempo, ano após ano, o casarão fechado e abandonado. CENA 36. CASARÃO. EXTERNA. DIA. Um carro tipo o chique da época, final dos anos 50, um bel air importado ou um JK nacional, encosta na frente do tapume. A porta de trás é aberta pelo motorista, de dentro sai um cara bem vestido, altivo. Ele olha para o casarão e balança a cabeça levemente. CENA 37. ESCRITÓRIO DAS INDUSTRIAS MACEDO. INTERNA. DIA O Sr. Macedo está sentado em sua mesa de mogno, na sua frente, dois assessores, blocos e canetas nas mãos, anotam as pa 1000 lavras dele. Sr.MACEDO: Prestem atenção, estive hoje vendo o casarão por fora, é uma excelente propriedade que, por algum motivo, está totalmente abandonada. Fiquei sabendo que é propriedade da prefeitura, então agendem uma reunião com o Prefeito o mais rápido possível, vou negociar a compra do casarão e reformá-lo para ser minha casa na cidade.Veja logo isso, quero começar a reforma imediatamente após a compra. CENA 38. PREFEITURA. INTERNA, DIA. Sala do Prefeito, estão reunidos, o Prefeito, dois assessores, o Sr. Macedo e dois advogados. MACEDO: Pois bem, Prefeito, como te disse por telefone pretendo adquirir o casarão abandonado para reformá-lo e torná-lo minha residência na cidade. Nossa empresa já está funcionando a pleno vapor e pretendo me mudar para cá, para ficar perto dos negócios. Claro que preciso saber o valor porque terei muitos custos com a reforma. o casarão está caindo aos pedaços. PREFEITO: Claro que sim, Sr. Macedo. É uma honra para a cidade tê-lo como morador. Não se preocupe, chegaremos rapidamente a um acordo em relação ao valor. Tenho certeza de que esse casarão, símbolo da pujança na nossa cidade outrora voltará a seus dias de glória em suas mãos. Me encaminhe sua proposta que daremos um retorno rapidamente. Muito obrigado pela visita Os dois se despedem, quando o grupo do Sr. Macedo se retira, o Prefeito solta um longo suspiro e comenta com seus assessores. PREFEITO: Meu Deus, nem acredito que vamos nos livrar dessa encrenca. Prepara a papelada, nem sei qual a proposta, mas claro que será aceita sem dúvida. CENA 39. ESCRITÓRIO DAS INDUSTRIAS MACEDO. INTERNA. DIA Os advogados estão sentados na frente da mesa do Sr. Macedo. Entregam documentos para ele e dizem: ADVOGADO 1: Está tudo certo, basta assinar que o casarão será do senhoR. O prefeito aceitou nossa proposta imediatamente, aliás, pensei até que poderíamos ter oferecido menos. Me pareceu que o imóvel é um transtorno para a Prefeitura, mandei nosso pessoal pesquisar e descobri coisas escabrosas sobre o imóvel. Houve alguns assassinatos no casarão e a população pensa que o casarão é mal assombrado, coisa de crendice popular, claro. SR. MACEDO: Assombrado ou não, vamos iniciar as reformas a semana que vem. Contratei uma equipe de Taguari, eles chegam no final de semana e iniciam os trabalhos na segunda. Vejam se consegue as licenças de reforma na Prefeitura até sexta, sei que o prazo é apertado, mas tenho urgência. Os advogados, pegam os papéis assinado pelo empresário e saem de cena. O Sr. Macedo fica sozinho.e pega uma garrafa de whisky no balcão da parede e se serve de uma dose, dá um gole e sorri satisfeito. CENA 40. VIZINHOS. EXTERNA. DIA. Entrada da casa localizada ao lado do casarão, a vizinha, Dona Matilde, está no jardim aparando uma roseira. Ela usa luvas de borracha e tem uma grande tesoura na mão. É interrompida por palmas no portão. Ela levanta os olhos e sorri ao ver uma amiga chegando. VISITA: Bom dia, Matilde, cuidando da roseira nesse solão? MATILDE: Bom dia Nega, sim alguém tem que fazer isso e estou protegida contra o sol. Ela aponta para o chapelão que cobre sua cabeça. VISITA: Vou entrar um minuto, estou indo ao açougue pegar uns bifes para o almoço, mas sempre da tempo para conversar com a amiga. MATILDE: Entra amiga, vou pegar um copo de limonada para você. As duas se dão beijinhos e vão para a varanda da casa na qual a Matilde pega um copo limpo e uma jarra de limonada sobre a mesa. MATILDE: Toma, vai ter refrescar no caminho para o açougue. VISITA: Obrigado, querida Ela dá um gole na limonada, deposita o copo na mesinha e pergunta; VISITA: Verdade. que compraram o casarão? MATILDE: Sim, foi o que fiquei sabendo, morro de medo do que pode acontecer com quem entrar lá dentro. Parece que é um empresário recém-chegado na cidade. Devem ter falado para ele do que aconteceu ali, mas não deve ter dado bola. Sei não, rezo para que uma nova tragédia não aconteça. Se acontecer, já disse para meus filhos. Me mudo daqui 1000 imediatamente. VISITA; Eu nem sei como você conseguiu viver aqui ao lado por tanto tempo. Eu teria ido embora no primeiro acontecimento. MATILDE: Pensa que não me ocorreu? Mas, ir para onde. Essa é a casa dos meus pais, fui criada aqui, criei meus filhos nesse espaço, mas chega uma hora que nada pode mais te segurar. Vamos ver, tomara que eu esteja errada e que a vida volte a acontecer no casarão. Tomara. CENA 41. ESCRITORIO DA INDUSTRIA. INTERNA. DIA. Um grupo de homens está reunido em volta do empresário. Um deles toma a palavra. HOMEM 1: Está tudo certo, os alvarás foram emitidos, tudo de acordo com o projeto de reforma, pode se iniciar as obras EMPRESÁRIO: Muito bem, na segunda daremos a largada. Minha equipe já está na cidade, pronta para entrar no serviço. Quero tudo acabado em dois meses, faremos uma grande festa de reinauguração com a presença do Prefeito, Governador, Bispo e o escambau. Todos sorriem e continuam conversando. Quadro vai escurecendo em fade out ate ficar escuro e fundir com a cena seguinte. CENA 42. VIZINHA DO CASARãO. EXTERNA, DIA. Dona Matilde está em sua varanda observando a chegada dos trabalhadores ao casarão. Eles estacionam duas Vans na frente do imóvel e começam a descarregar equipamentos. Corte para o capataz que fala para os homens. CAPATAZ: Tudo certo, gente. Vamos entrar e começar já o serviço. Temos pouco tempo, só 2 meses para deixar esse casarão tinindo. Vamos lá. O grupo entra nos jardins, o capataz na frente. Ele vai até a porta, abre-a com uma chave que estava com ele. A porta é escancarada e os homens entram, um a um no imóvel Corte para Dona Lurdinha que olha o grupo entrando e faz o sinal da cruz, entrando rapidamente para dentro de sua casa. CENA 43. DELEGACIA DE POLICIA. INTERNA. DIA. O delegado está em sua sala lendo algum relatório. Entram dois policiais que demonstram nervosismo. POLICIAL 1: Senhor, desculpe incomodar. Tivemos mais uma tragédia no casarão. Uma nova equipe começou hoje de manhã a reformar o imóvel e meia dúzia foram chacinados. Acabamos de receber um telefonema da vizinha. Disse que o jardim está coberto de corpos decepados. POLICIAL 2: Tem mais, a vizinha está em estado de choque e parece que foi hospitalizada em seguida DELEGADO: Meu Deus, mande todos os homens para lá imediatamente. Deixem.imprensa fora disso, por enquanto. Vou telefonar para o secretário de segurança que deve informar ao Prefeito. CENA 44. INDUSTRIA, SALA DO PRESIDENTE. INTERNA. DIA EMPRESáRIO: Como assim, foram todos mortos? Por quem? Quando? ASSESSOR: Na casa, não sabemos como foi, recebemos o telefonema de um repórter, queria informações sobre os homens. Liguei para a polícia, já estão no local. Logo teremos mais informações. EMPRESÁRIO: Diabos, vai atrasar e muito a reforma. Enquanto estamos no escuro, avise as famílias e tome todas as providências. Em seguida, arrume outra equipe para tocar a obra. Assim, que tudo tiver sido resolvido, voltamos ao local para reiniciar o trabalho. CENA 45. DELEGACIA. SALA DO DELEGADO. INTERNA. NOITE DELEGADO: Não me diga que todos foram mortos da mesma forma. Vamos chamar as forças armadas ou quem possa resolver isso. Não dá mais para tolerar esses assassinatos. O povo clama por justiça. Temos que fazer algo urgentemente. POLICIAL: Senhor, novamente, estamos totalmente no escuro. A única diferença desse para os outros crimes é que os pedaços de corpos foram jogados para fora da casa, espalhados pelo jardim. DELEGADO: Ok, vamos chamar a tropa de choque e invadir o casarão. Se o assassino ou assassinos estão lá dentro, vamos liquidar com todos eles. Vou ligar para o secretário de segurança pedindo autorização. CENA 46. RUAS DA CIDADE. EXTERNA. FIM DE TARDE. Um cortejo de carros de polícia, camburão e ônibus militares percorrem as ruas com as sirenes ligadas. As pessoas olham deslumbradas pra aquele desfile das forças especiais pelas pacatas ruas do município. CENA 47 CASARÃO. EXTERNA. NOITE. Uma grande movimentação na frente do casarão. A tr 1000 opa de choque está a postos para invadir o local. Uma multidão se concentra do outro lado da rua contida por um cordão de segurança. A imprensa está ao lado, também contida por cordão de isolamento com Câmeras de TV, repórteres, fotógrafos. Claro que temos os ambulantes faturando algum. Neguinho com isopor vendendo cerveja gelada, carrinho de churrasquinho, pipoqueiro. O delegado está ao lado do comandante da tropa. Eles conversam. DELEGADO: Quando a tropa estiver a postos, dê a ordem. Podem atirar para matar. Essa é a decisão do Secretário de Segurança e do Prefeito. COMANDATE: Ok, em minutos invadiremos. O comandante pega o rádio e diz COMANDANTE: Sinal verde, podem entrar. CENA 48. CASARÃO. EXTERNA E INTERNA. NOITE. Os militares, todos com máscaras e fortemente armados começam a se movimentar em direção do casarão. Dois se posicionam em frente à porta de entrada segurando uma espécie de ariete. Movimentam a peça para a frente e para trás, tomam embalo, e arremessam contra a porta que cede totalmente. Um a um os militares entram no casarão. Corte para o interior. Eles entram pelo salão, vasculham o local e dizem alto: MILITARES: Limpo. Limpo. Limpo. Limpo. Quatro vão para os fundos, vasculham a cozinha e repetem alto. MILITARES: Limpo. Limpo. Limpo. Limpo. Outros seis sobem as escadas, alcançam o piso superior, entram nos quartos, todos repetem, MILITARES: Limpo. Limpo. Limpo. Limpo. CENA 49. CASARÃO. EXTERNA. NOITE. Um apresentador de Televisão fala para a câmera localizada em sua frente. APRESENTADOR: Estamos aqui, na frente do Casarão da Rua Principal, palco de diversos crimes nos últimos anos e que culminou ontem com um massacre no qual foram mortos 6 operários que iriam trabalhar na reforma do local. Nesse momento, a tropa de choque da Polícia Militar invadiu o casarão em busca dos assassinos e, até o momento, a informação que recebemos é que não encontraram ninguém no interior da casa. Um verdadeiro mistério. voltamos a qualquer momento com novas informações. CENA 50. DELEGACIA DE POLÍCIA. INTERNA. NOITE. Reunidos o delegado, o comandante da PM, o Secretário de Segurança. DELEGADO: Foi feito uma varredura total do imóvel, nem sombra de alguém no local. COMANDANTE: Sim, percorremos todos os cômodos, ninguém, O estranho é que está tudo muito limpo, como se a casa estivesse habitada. Inexplicável. SECRETÁRIO: Vou informar ao Prefeito e vamos aguardar o resultado da perícia. Foi muito bom termos enviado o pessoal técnico após a entrada da força. Colheram material no local e vamos analisar no laboratório e checar impressões digitais. Bom trabalho, pessoal. CENA 51. INDUSTRIA, SALA DO PRESIDENTE. INTERA. DIA. Um grupo de assessores está reunido com o empresário em sua sala. EMPRESÁRIO: Digam, o que temos? ASSESSOR 1: Tudo certo com as famílias das vítimas, arcamos com as despesas dos funerais e demos um auxílio para cada família. Acho que não teremos problemas com eles. ASSESSOR 2: A polícia já liberou o casarão, mas o delegado me disse que deveríamos aguardar o encerramento das investigações antes de recomeçar a reforma. Por precaução, ele salientou. EMPRESÁRIO: Nem pensar, a nova equipe já está contratada e pronta para iniciar os trabalhos. Quero presteza nisso. ASSESSOR: Sim, senhor. Vou pedir para eles começarem amanhã. CENA 52. VIZINHA. INTERNA. DIA. Dona Matilde está em sua sala cercada de malas. Suas duas amigas estão ao seu lado. MATILDE: É isso, amigas. Depois de quase 60 anos tenho que abandonar minha casa. Vou morar em um apartamento que meu filho alugou no Jardim Imperial. Disse que será muito melhor para mim, duvido, mas não tem jeito. Resisti enquanto deu, o táxi deve estar chegando. A mudança já foi pra lá hoje de manhã, então... AMIGA 1: Mas, Matilde, o que será da casa. Vai ficar fechada: MATILDE: Meu filho colocou a venda, mas dificilmente haverá um maluco disposto a morar aqui. As duas amigas balançam a cabeça concordando. CENA 53. BOTECO. INTERNA. DIA. O dono do 1000 boteco e 3 fregueses estão no balcão. O dono, dentro, os três sentados em banquetas do lado de fora. DONO DO BOTECO: Pois é, a Dona Matilde se mudou da casa onde nasceu. Se continuar assim, vamos ter um quarteirão de casas abandonadas.Vou procurar outro ponto para o boteco, mesmo não querendo. CLIENTE 1: Calma, fiquei sabendo que a tropa de choque vasculhou o casarão e não encontrou nada, nenhum suspeito. CLIENTE 2: O que só reforça a teoria de que isso foi obra de satanás. Só o poder de Cristo pode vencer essa batalha. CLIENTE 3: Para de falar besteira, Gervásio. Que Cristo que nada, está cada vez mais claro que isso é pura especulação imobiliária. Vão expulsar todo mundo e comprar as casas a preço de banana. Ai vão surgir espigões que terão apartamentos vendidos por uma fortuna. Pode escrever o que estou dizendo. Os 4 homens ficam em silêncio remoendo seus pensamentos. CENA 54. IGREJA EVANGELICA LUZ DA FÉ. INTERIOR. DIA. Salão da igreja lotado de fiéis, gente simples, todos bem arrumados para a cerimônia. O pastor, um cara de mais ou menos 40 anos prega com eloquência. PASTOR: Meus amigos, aqui estamos reunidos para mais uma vez pedir ao nosso Senhor que nos proteja do mal. Sim, o mal que nos persegue noite e dia, nos tentando com suas garras poderosas. Sim, o mal que tira vidas inocentes em todos os cantos. O mesmo mal que habita aqui perto, na vizinhança. Estou falando do espírito do mal que habita a Casa da Rua Principal. Todos sabem que lá vive uma entidade sem rosto, nem corpo, mas capaz de ceifar vidas em um piscar de olhos. Essa semana, tivemos mais vítimas desse mal. Jovens operários tiveram suas vidas ceifadas sem piedade. O que eles fizeram para morrer assim? Desafiaram o mal e foram atingidos por sua fúria impiedosa. O que vamos fazer? Assistir placidamente mais essa carnificina? É isso? Ou vamos tomar uma atitude e acabar com esse mal definitivamente? Se sim, o que temos que fazer? Como lutaremos? Temos força suficiente? A resposta está dentro de nossos corações e nossas mentes. Sim, temos força, temos como vencê-lo. Como, vocês perguntam? Assim como Jesus enfrentou os fariseus, com o poder da oração. Vamos fazer uma corrente de fé na frete do casarão. Uma vigília que contará com o poder de nosso fé, imbatível e que exterminará esse demônio para sempre. Vamos nos reunir lá amanhã a partir das 5 da tarde e vamos mostrar toda a nossa força contra o demo. A palavra de Jesus sempre venceu e vencerá mais uma vez. ALELUIA, ALELUIA, ALELUIA. Todos repetem em coro 3 vezes Aleluia. 55. CASARÃO. EXTERNA. ENTARDECER. Uma pequena multidão se aglomera na frente do casarão. Alguns bíblias nas mãos, outros com os braços erguidos para o céu, todos orando ao comando do pastor. PASTOR: Jesus, meu Jesus, sou a sua voz, sou o seu espírito e nada me deterá. As pessoas repetem a fala com ardor. PASTOR: Ali dentro tem um demônio, ele quer nos enfrentar, mas tem medo da fúria de Jesus. Nossas orações irão acabar com ele, meu Jesus. PASTOR: Jesus, dai nos a graça de seu poder, dai nos as armas de sua voz, dai nos a força que precisamos. Grupo repete suas palavras. PASTOR: Satanás, saia se for capaz. Estamos prontos para te enfrentar. Venha Satanás, Jesus está conosco e nada nos faltará. Venha satanás, saia do seu antro e mostre sua face. Não temos medo, temos a fé e Jesus ao nosso lado. Venha Satanás, venha. A pequena multidão fica excitadas e, ao mesmo tempo, nervosa e receosa com a provocação do pastor. Mães seguram com força as mãos das crianças. Homens fecham o cenho e aguardam com o coração na mão a saída de Satanás. Passam-se alguns minutos de expectativa, nada acontece. Todos ficam ainda mais apreensivos. Nesse momento, um trovão soa forte no céu, o povo se apavora com o som alto e sai em debandada rua abaixo deixando o pastor sozinho na frente do casarão. PASTOR: Voltem, não tenham medo, Jesus está conosco, ninguém pode nos enfrentar. Voltem, voltem. Ele fica gritando inutilmente. Ninguém para para ouví 1000 -lo. Caem os primeiros pingos de água e o pastor rapidamente fica ensopado e resolve também ir embora. CENA 56.INDUSTRIA. SALA DO ASSESSOR. INTERNA. DIA. Estão em reunião o assessor principal do empresário com um grupo de homens. Um deles, fala por todos. CAPATAZ: Sim, senhor. Não faremos o serviço, viemos aqui para comunicar nossa decisão. ASSESSOR: Como assim, não farão. O que aconteceu? Querem receber mais, é isso? CAPATAZ: Não senhor, soubemos o que aconteceu com os rapazes que foram mortos naquela casa e de todos os casos que aconteceram antes. Por dinheiro nenhum do mundo, nós colocamos os pés lá. Está decidido. O assessor balança a cabeça enquanto os homens se levantas e saem da sala. CENA 57. INDUSTRIA. SALA DA PRESIDENCIA. INTERNA. DIA O assessor está na frente do empresário falando nervosamente. ASSESSOR: Sim, senhor, acabaram de sair daqui. Mão vão fazer a reforma. Estão com medo e não aceitaram nem discutir valores. Foram determinados. EMPRESÁRIO: Arrume outra equipe, rapidamente, esse negócio está me dando dor de cabeça e quero resolver logo. Ofereça mais grana e arrume logo esses homens. CENA 58. DELEGACIA DE POLÍCIA. INTERNA. DIA. O delegado está reunido com 2 policiais. DELEGADO: Então, chegaram o resultado da perícia realizado no casarão após a entrada da tropa de choque. Nem sei o que dizer. As únicas digitais encontradas no local são da família que ali residia, a mãe e os dois filhos. Nada mais. Perguntei se era possível encontrar esse material depois de tantos anos, a resposta não foi conclusiva. O perito disse que não tinha essa informação, mas que pesquisara com colegas de outros estados e países e a conclusão foi que não. Não tinha como ser de pessoas que lá estiveram anos atrás. Dessa forma, o mistério só cresceu. Não tenho a menor ideia de como vou passar essa informação para o secretário. CENA 59. IGREJA EVANGÉLICA. APOSENTOS DO PASTOR. INTERNA. DIA. O pastor está em seus aposentos, ao seu lado, seu assistente. Os dois conversam. PASTOR: Foi uma debandada. nunca vi povo tão convarde assim. Pior: fiquei desmoralizado perante o rebanho e a opinião pública. Vamos ter trabalho em dobro para manter o faturamento esse mês. Se tivesse acontecido o que imaginei, a gente, com nossa fé, derrotando o demo, será a glória eterna. Imagine, notícia no Brasil inteiro e até no exterior. Nossa igreja ficaria famosa e teríamos uma rede de franquias em todo o continente e além mar, com toda certeza. Em vez disso, aqui estamos tentando juntar os cacos dessa derrota sem luta. Mas, não desisto, vou enfrentar o demônio sozinho. Sozinho não, com Jesus Cristo ao meu lado. Pode escrever ai. CENA 60. CASARÃO. EXTERNA. DIA. O Pastor está com seu assistente na frente do casarão. Tem uma biblia na mão e olha determinado para a propriedade. PASTOR: vou entra e expulsar o Satanás. Meu Jesus, venha comigo e vamos mostrar para esses fiéis de meia tigela que a palavra sagrada vence sempre. Vamos lá, meu Jesus. O Pastor abre o portão e entra a passos rápidos em direção da porta do casarão. Na entrada da casa, segura firme a bíblia no peito, Quando chega na porta, uma lufada de vento forte o atira a cinco metros no jardim. O pastor cai desacordado e o assistente sai correndo rua abaixo. Pessoas que sobem a rua olham assustadas para aquele homem correndo sem olhar para trás. CENA 61. IGREJA DA FÉ. CULTO. INTERNA. DIA. O Pastor está no alta preferindo seu sermão, apenas meia dúzia de fiéis acompanham suas palavras. PASTOR: Disse nosso senhor Jesus Cristo: só a fé nos salvará, só a fé combate o mal, só a fé vence tudo. Por isso, meus irmãos, temos fé e temos certeza de que venceremos o mal, sempre. Se ontem fomos derrotados, hoje estamos mais fortes e nada nos deterá. Estou convocando todos os fiéis para realizamos uma corrente de orações a frente da casa do mal. Vamos, com nossas orações, derrotar satanás em sua morada. Lembre-se, Jesus está conosco e nada nos faltará. CENA 62. ESCRITÓRIO DA INDUSTR 1000 IA. SALA DO PRESIDENTE. INTERNA. DIA. O presidente está reunido com seus assessores. PRESIDENTE: Quer dizer que não conseguimos ninguém para tocar a obra? Ou seja: estamos vivendo no melhor país do mundo, ninguém precisa de trabalho, estão todos bem de vida. Isso ∑e uma piada, de mau gosto. Como não temos homens para trabalhar? Me expliquem como isso é possível. ASSESSOR ( gaguejando) : Como eu lhe disse, senhor. Falamos com todos os empreiteiros da cidade, e das cidades próximas. Ninguém quer entrar no casarão. Todos estão com medo e dizem que nenhum dinheiro do mundo vale mais do que a vida. PRESIDENTE: Ok, já que estamos nesse impasse, vamos encerrar esse assunto. Tranque o imóvel e vamos deixar parado até encontrarmos uma solução. E vamos procurar outro imóvel de categoria para ser minha residência na cidade. Dispensados. CENA 63. BOTECO DA ESQUINA. INTERNA. NOITE. O boteco da esquina está com seus fregueses habituais tomando uma antes do jantar. Três homens no balcão tomam cerveja e falam entre si e com o dono do boteco. HOMEM 1: Então, Olegário, quer dizer que seu boteco tem cliente do outro mundo também? OLEGÁRIO: Que é isso, João. Que outro mundo, tá louco? HOMEM 1: Me falaram que o pessoal do casarão ai de frente toma uma aqui todas as noites. OLEGÁRIO: Não brinca com isso, João . Pelo amor de Deus, vamos respeitar os espíritos. HOMEM 2: Também acho, João, Já pensou se eles ouvem suas gozações e resolvem te fazer uma visita mais tarde? HOMEM 1: KKKKKkkkk. Eu lá tenho medo do que não existe. Por mim, eu pegava meu 38 e entrava naquele casarão metendo chumbo em quem se mexesse. HOMEM 3: Falara é fácil, quero ver se tem coragem de entrar naquele portão. Todos riem enquanto o João (homem 1), fica olhando para eles ressabiado. CENA 64. REDAÇÃO DO JONRAL. REUNIÃO DE PAUTA. EDITOR: E, ai, nenhuma novidade sobre o casarão? Nenhuma morte nova? Nada? REPÓRTERES: (respondem ao mesmo tempo}: Naddasaaaaa!!!! EDITOR: Que pena, vamos vender menos jornais. Alguma outra coisa que possa manter nossas vendas lá em cima? Diga ai, Leocádio. LEOCÁDIO: A única coisa que fiquei sabendo ´é que aquele pastor que saiu voando porta a fora está tentando organizar um grupo de orações na frente do casarão. EDITOR: Boa, pelo menos temos alguma coisa. Vão lá cobrir esse evento. tomara que a coisa desande. RISOS GERAIS CENA 65. CASARãO. EXTERNA. NOITE Na calçada da frente do casarão estão o pastor e 4 fiéis. Todos com as mão erguidas para o céu e orando alto. PASTOR: Quem entra no reino de Deus tem o amor de Cristo no coração. Quem segue pelo caminho da fé encontra Jesus no final da jornada. Meus irmãos, Aleluia, Aleluia, Aleluia. CORO: Aleluia, Aleluia, Aleluia Ao lado está o repórter e um fotógrafo que documenta a pequena manifestação. O pipoqueiro, está guardando suas coisas e se preparando para ir embora. Sentiu que dali não sai nada mais. O pastor e os poucos fiéis continuavam rezando e clamando aos céus. CENA 66. BOTECO INTERNA. NOITE. No boteco, o mesmo grupo de amigos tomam sua cervejinha e comentam sobre as orações na frente do casarão. HOMEM 2: Imagine, esse pastor não toma jeito mesmo. Já saiu voando do casarão e insiste em provocar as almas penadas. Vai acabar se dando bem mal, podem escrever. HOMEM 3: Também acho, pior é que ainda tem gente acreditando nele, poucos, mais fiéis, sem trocadilho. RISADAS DONO DO BOTECO: Sim, na primeira batalha dele contra o demônio tinha um exercito de fiéis atrás dele. Exército pelo número de pessoas, porque bastou uma trovoada pra todo mundo sair correndo. RISADA HOMEM 1: Sei não, eu conheço esse pastor, é um cara bem inteligente, deve ter alguma carta na manga, podem acreditar. Os três continuam tomando cerveja e, de vez em quando, espichando os olhos para ver se acontecia alguma coisa nova no casarão. Numa dessas, o céu se enche de raios e uma ventania infernal começa lá fora. Os três fazem os sinal da cruz repetidas vezes e arregalam os olhos para os r 1000 aios que pipocam em cima do pastor e dos fiéis CEMA 66. CASARãO. EXTERNA. NOITE. O primeiro raio atinge em cheio.o pastor que cai fulminado na calçada. Em seguida novos raios atingem os fiéis que também são mortos instantaneamente. CENA 67. BANCA DE JORNAL. EXTERNA. DIA. Um grupo de transeuntes estão parados na frente da banca espichando o pescoço para ler as chamadas do jornal exposto na lateral da banca. HOMEM 1: Deus me livre, eu frequentei aquela igreja por algum tempo. Ainda bem que cai fora, se não eu também estava torrado na calçada do casarão. MULHER 1: Nunca imaginei que existisse uma coisa dessas, sempre fui incrédula sobre isso, para mim não passava de crendices, mas agora, sei não, sei não. HOMEM 2: Viu, tá dizendo que nem os meteorologistas conseguem explicar o que aconteceu. Ninguém nunca viu uma concentração de raios desse jeito. Pior: não tinha uma nuvem no céu. HOMEM 3: É o demo, podem ter certeza. Tomara que ninguém mais se atreva a provocá-lo. CENA 68. DELEGACIA DE POLÍCIA. INTERNA. DIA. O delegado e dois policiais conversam. DELEGADO: Sim, inexplicável. Um acontecimento sem nenhuma lógica. Estamos totalmente no ar. Só o sobrenatural pode esclarecer algo assim. POLICIAL 1: Verdade, delegado. De qualquer forma, os homens estão apreensivos e não querem participar de nenhuma investigação. O que fazemos? Impomos ou deixamos pra lá? DELEGADO: Vamos tocar o inquérito com os elementos que temos, descargas elétricas inesperadas atingiram as vítimas e provocaram essa fatalidade. Ponto final. CENA 69. CARRINHO DE PIPOCA. EXTERNA, DIA. O pipoqueiro está com seu carrinho estacionado na esquina do casarão, nunca vendeu tanta pipoca assim desde que coisas estranhas começaram a acontecer no casarão. PIPOQUEIRO: olha a pipoca, doce e salgada, olha a pipoca. Pessoas que estão aglomeradas na calçada olhando com curiosidade para o casarão compram os saquinhos de pipoca e comem sem tirar os olhos da propriedade. CENA 70. BOTECO. INTERNA. DIA. O boteco está vazio, só o dono passando o pano no balcão e olhando vez ou outra para a entrada esperando que alguém apareça. Depois de alguns minutos, balança a cabeça e fala consigo mesmo. DONO DO BOTECO: Que merda, vou ter que passar esse bar pra frente. Nem sei se vou encontrar algum comprador, mas não dá mais. Servir bebidas para as moscas não dá futuro para ninguém. Ele se dirige até a porta de ferro e começa a baixá-la fechando o boteco. PASSAGEM DE TEMPO. CASARÃO. EXTERNA. DIA. Câmera fixa no casarão, passam se as estações uma após a outra: Primavera, as árvores floridas. Verão, o sol escaldante. Outono, as árvores perdendo folhas. Inverno, chuva e frio, as árvores sem nenhuma folha. No quadro entra o ano atual: 2023. CENA 71. UNIVERSIDADE. CURSO DE ARQUITETURA. INTERNA. DIA Um grupo de estudantes de arquitetura está reunido em uma das salas. Um deles fala para os demais.\ GAROTO 1: Precisamos pensar no nosso trabalho de conclusão. Pensei que deveríamos propor algo prático, que realmente se tornasse realidade. Nada de conceitos e teorias, vamos achar alguma coisa na qual possamos criar algo de novo e transformar essa propriedade em alguma coisa importante para cidade. GAROTO 2: Acho bacana, mas o quê. Um monumento, uma casa abandonada, o quê? GAROTO 1: Isso mesmo, vamos encontrar uma casa abandonada, mas tem que ser imponente, nada de merreca. É isso ai, boa ideia, vamos à luta. CENA 72. CASA DO GAROTO.EXTERNA. DIA. O estudante está em casa, no seu quarto, cercado de livro, pesquisando no computador. Câmera aproxima e mostra o que ele esta vendo. O garoto digita casarões abandonados em Jacutinga. Surgem imagens diversas de casas de diferentes portes aparentemente sem moradores. Ele começa a correr a tela e se depara com o casarão. O garoto clica na imagem que amplia e lê com atenção o texto que acompanha. CENA 73. UNIVERSIDADE. SALA DE ESTUDOS. INTERNA. DIA. O grupo de estudantes esta reunido, o garoto 1 fala para os demais. GAROTO 1: Achei o que precisávamos, 1000 esse casarão abandonado foi construído no final do século passado, tem mais de 100 anos. É imponente, tem valor histórico, arquitetônico e cultural. O que acham? Todos olham para a imagem no computador e balançam a cabeça concordando. Uma das garotas fala: GAROTA 1: Paulinho, eu sei desse casarão. Minha mãe falava histórias sobre ele. Parece que é mal assombrado, gente morreu nele. Não sei direito, mas acho que a gente deveria s se informar melhor. GAROTO 1 (PAULINHO): Isso bobagem, Estela. Todo casarão abandonado é mal falado. O povo, em sua ignorância, inventa muitas histórias. Penso que não vamos encontrar outra propriedade com essas características, meu voto é o de preparar o trabalho em cima dele. Amanhã mesmo vou na prefeitura conseguir a planta original para a gente começar nossa tarefa. Concordam? Todos concordam, menos a garota 1 que fica calada porque sabe que é voto vencido. CENA 74. CASARãO. EXTERNA. DIA. O grupo de garotos chega na calçada em frente ao casarão, param e ficam olhando meio desanimados pelo estado da propriedade. As paredes estão descascadas, os beirais dos telhados destruídos pelo tempo, mato daninho cresce desordenadamente pelas paredes, o jardim, outrora impecável, é um matagal. GAROTO 1: Vai ter muito trabalho para restaurar isso. GAROTO 2: E muita grana. Imagine quanto vai custar arrumar essa joça. GAROTO 1: Isso não é problema nosso, temos que fazer nossa parte e a Universidade vai atrás de verba. Os garotos ficam coçando a cabeça e olhando meio desanimados para o local. CENA 75. SALÃO NOBRE DA UNIVERSIDADE. INTERNA. DIA. O grupo de estudantes está sentado em cadeiras na frente de uma banca examinadora. Paulinho está em pé apresentado projeção em um telão de um projeto arquitetônico. PAULINHO: Dessa forma, acreditamos que a restauração desse casarão histórico é um resgate da história da nossa cidade e que deve ser preservada para a nossa e as futuras gerações. Muito obrigado. Os professores balançam a cabeça concordando com as palavras do jovem estudante. CENA 76. PATIO DA UNIVERSIDAE. EXTERNA. DIA. O grupo de estudantes está reunido no pátio da universidade, Paulinho chega correndo, todo sorridente. PAULINHO: Conseguimos, saiu o resultado da banca. Nosso trabalho recebeu a nota máxima e foi encaminhado pela junta para a reitoria pedindo apoio da universidade na restauração do casarão. Viva! Todos se cumprimentam e se abraçam na maior alegria. CENA 77.REITORIA DA UNIVERSIDADE. INTERNA. DIA. O reitor está reunido com dois professores da arquitetura. REITOR: Realmente, o trabalho dos alunos é exemplar. E essa reitoria está empenhada em arrumar recursos para a execução da restauração do casarão. Já tivemos reunião com a Prefeitura, tudo certo, eles falaram com a atual proprietário que não se opôs a nosso projeto. Pelo contrário, sua empresa está disposta a bancar boa parte dos custos. A prefeitura disponibilizou uma equipe de trabalho que fará as obras sob nossa supervisão. Avise os alunos que está tudo certo e devemos iniciar as obras tão logo seja expedido o alvará e as licenças da prefeitura. Estima-se que tudo estará liberado em uma semana. Vamos comemorar o nosso primeiro centro cultural. A cidade já merecia um projeto desses há anos. Parabéns a todos. CENA 78. CASA DO PAULINHO. INTERNA. DIA. E estudante está almoçando com seus pais, o garoto esta exultante com o resultado do seu projeto de conclusão. PAULINHO: Pai, imagine terminar um curso com um projeto importante concluído e assinado por nós? É o máximo que a gente poderia desejar. Ninguém na faculdade conseguiu algo assim. Vamos construir o primeiro centro cultural de nossa cidade. Isso é maravilhoso, não é? PAI: Claro que sim, meu filho. Estamos muito orgulhosos de você. Falei com o Anselmo, o dono da empresa, ele ficou entusiasmado e prometeu liberar algum recurso para a sua obra. A cidade inteira vai se empenhar nesse projeto, pode ter certeza. PAULINHO: Sim, pai, recebi do meu professor, além dos parabé f79 ns, a promessa do reitor que está se empenhando pessoalmente para a viabilização da restauração. Bom, tenho que ir, tenho muita coisa para fazer ainda no projeto. Vou chegar tarde, não me esperem para jantar. O garoto se levanta, dá um beijo na mãe, outro no pai e sai correndo porta a fora. CENA 79. FACULDADE. SALA DE ESTUDOS. INTERNA. DIA. O estudante está com seu grupo trabalhando no projeto. Todos estão compenetrados na função GAROTA: Paulinho, acho que devemos colocar lambris nessa janela, o que acha. Pensei em madeira tratada, pode ser material de demolição, acho que combina bem com as linhas da casa. PAULINHO: Sim, boa ideia, Angela, Vamos nessa. Temos que derrubar essa parede da cozinha, vamos aumentar um pouco a área. O pessoal que vai tocar o restaurante precisa de mais espaço e a cozinha é pequena para a função. ESTUDANTE 2: Estava pensando, temos que deixar um espaço para exposição, além do salão principal. Pensei em transformar um porão em uma área para exposições temporárias, pode ser uma boa. ESTUDANTE 3: Também acho, além disso podemos colocar um projetor para exibir filmes de arte. A cidade carece de bons cinemas. Câmera vai se afastando e deixando os garotos envolvidos no projeto. Sai em um longo zoom out deixando a universidade e fazendo uma imagem aérea via drone indo até o casarão há algumas quadras do local. CENA 80. CASARÃO, EXTERNA. DIA. Ao se aproxima do casarão câmera entra até chegar na escadaria interna. Câmera focaliza o alto da escada, uma figura fantasmagórica está no alto das escadas. É uma figura feminina, toda vestida com uma bata branca do pescoço até os pés. Ela olha para baixo e por efeito, se dissolve no ar. Um vento acompanha a cena balançando os quadros nas paredes. CENA 81. DELEGACIA DE POLÍCIA. SALA DO DELEGADO. O delegado está conversando com um policial. DELEGADO: Fiquei sabendo que vão mexer novamente no casarão. Dessa vez vamos nos antecipar. Quero homens lá quando entrarem os operários. Vamos mostrar força ofensiva, ninguém vai nos pegar de surpresa dessa vez. POLICIAL: Teremos apoio da Polícia Militar? DELEGADO: Sim, já mandei um ofício para a secretária de segurança e teremos apoio efetivo da PM. CENA 82. INCÊNDIO. EXTERNA. ENTARDECER. Câmera focaliza o casarão, inexplicavelmente ele começa a pegar fogo. Rapidamente as chamas tomam conta do casarão destruindo totalmente o imóvel. CENA 83. CASARÃO. NOITE. Os bombeiros estão trabalhando, mas nada mais resta do casarão. Conforme jogam água com as potentes mangueiras a fumaça densa vai aos poucos sumindo deixando uma imagem dramática do outrora imponente casarão. Apenas escombros restam no local. Uma parede ainda está em pé, mas logo cai deixando um grande vazio no terreno. Pessoas na rua olham assombradas para o desastre. Muitos fazem sinal da cruz, outros choram, crianças olham de olhos arregalados. No meio da multidão, Paulinho e os demais estudantes olham incrédulos para a cena. PAULINHO: Não entendo, até horas atrás estava tudo bem, teríamos o início das obras do nosso primeiro centro cultural. Em pouco tempo tudo virou cinzas. Isso é inexplicável. Vamos embora, chega de tanta tristeza. Vamos tomar umas e espairecer. Estamos precisando. O grupo sai lentamente do meio da multidão. Nisso, ouve se um grande gemido alto e agudo que provoca arrepio e deixa todo mundo de cabelo em pé. As pessoas começam a correr desesperadas, umas atropelando as outras, um pânico generalizado. CENA 84. TERRENO DO CASARÃO, DIA. EXTERNA. Ainda sai um pouco de fumaça do terreno queimado. Os bombeiros já foram embora, algumas pessoas estão aglomeradas no outro lado da rua, olhando nervosas para o que restou do casarão. Travelling. Câmera se afasta lentamente, sobe e focaliza o terreno inteiramente queimado de cima. Música sobe e acompanha o trajeto da câmera. No quadro entra o letreiro. FIM 0